A gente cresce na relação com o outro.
terça-feira, dezembro 28, 2010
O tempo na velhice
Nossa relação com o tempo varia de acordo com a idade que temos. Quando somos jovens, contamos o tempo vivido até o agora. Quando velhos, a extensão do tempo se estreita e passamos a viver o tempo que ainda nos resta; pois a morte, que negamo-nos a ver ao longo da vida, se aproxima inevitavelmente. Na velhice o futuro fica limitado pela consciência de finitude.
Vivemos numa sociedade onde o futuro é supervalorizado, em detrimento do passado e do aqui-e-agora. Estamos constantemente nos preparando para o amanhã. Fazemos planos para carreira, investimos em cursos, economizamos para ter uma boa aposentadoria... como se o amanhã fosse eterno; acontece que não é!
O "ser velho" de hoje também é produto de nossa cultura, portanto, este sofre as pressões e influências culturais. O velho de hoje também aprendeu, ao longo da vida, a mirar seus olhos para o que ainda está por vir e, portanto, se angustia ao imaginar a morte que se anuncia. Mas, ao pensar no presente, depara-se com os lutos das perdas que já teve e, por isso, é comum que se refugie no passado e em suas recordações.
A temática do tempo, embora não de forma explícita, é abordada em alguns textos freudianos, como em "Além do princípio do prazer." (1920)
O tempo psicológico é diferente do tempo cronológico.
O tempo cronológico constitui-se na sequência passado-presente-futuro, mas, para nossa psique, esta ordem é subvertida. Para nosso psiquismo o tempo não é linear, é no presente que avaliamos o passado e, quando o rememoramos lhe damos novos significados. Além disso, é a partir das experiências do presente que fazemos planos para o porvir.
A passagem do tempo pode ser experienciada como algo aterrorizante, pois ataca o narcisismo do sujeito que envelhece, ou seja, ataca a imagem que este tem de seu Eu Ideal da juventude e que hoje não é mais o mesmo.
Terapia e envelhecimento - Qual a importância da psicoterapia?
Durante o processo terapêutico, o idoso pode trazer à tona suas reminescências e, no processo de rememoração, pode elaborar questões de sua vida. É importante que esse discurso seja acolhido pelo grupo onde o idoso se insere.
A repetição de histórias ajuda a sustentar a identidade do sujeito, uma vez que identidade e memória se entrecruzam.
*Texto escrito por Jéssica Calderon.
Atendimento Psicológico - em Botafogo
Contato: jessicacalderon.psi@gmail.com
Jéssica Calderon - CRP: 05/39344
segunda-feira, dezembro 20, 2010
Psicoterapia de Grupo para mulheres e idosos - Divulgação de Trabalho!!
terça-feira, dezembro 07, 2010
"Não sou mais como era antigamente." - CORPO e envelhecimento
Retrato Cecília Meireles
in Flor de Poemas
"Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por conta desta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?"
O processo de envelhecimento é continuo e progressivo.
A cada dia nos tornamos mais velhos e não nos damos conta das pequenas mudanças cotidianas.
Isto a tal ponto de um dia, enfim, levarmos um grande susto ao percebermos como não somos mais como éramos antigamente.
Platão foi um filósofo que falava da dicotomia corpo e alma. Dizia ele que o corpo era a matéria, já a alma correspondia a algo imaterial, algo de divino no homem. No pensamento platônico há uma valorização da alma em detrimento do corpo que perece.
Freud quando teoriza sobre as instâncias psíquicas e fala da existência de um EU que constitui o sujeito, apesar de falar de um EU psíquico, portanto, subjetivo e imaterial, coloca-o encarnado no corpo, não sendo possível tratar o corpo como algo sem importância ou de menor valor.
Ele diz: "O Eu é um ser corpóreo, e não só um ser superficial, ele é também a projeção de uma superfície." (Freud, 1923, T.II, p.15)
A teoria psicanalítica não fala apenas da existência de uma interioridade do sujeito, ela afirma a dimensão corpórea deste, até porque a formação do Eu se articula com o corpo, a partir dos primeiros contatos do bebê com a mãe e, posteriormente, através de suas experiências com o próprio corpo.
A imagem que temos de nosso corpo não é uma imagem real, mas imaginária.
A imagem que temos de nosso corpo é criada a partir de nosso contato com o outro e com o mundo. É uma imagem criada a partir do investimento externo em nosso corpo. O bebê ao nascer não se diferencia em relação ao outro, só a posteriori seu Eu é contruído.
"A imagem do corpo, pelo contrário, é própria a cada sujeito e está ligada a sua história. É relacional, depende especialmente da história libidinal, se apresenta como síntese das experiências relacionais do sujeito desejante e pode ser considerada como sua encarnação simbólica. É eminentemente inconsciente; memória da vivência relacional sempre dinâmica, pois estrutura-se através da relação entre sujeitos e é nela que se inscrevem as experiências relacionais (valorizantes ou não, narcisisantes ou não), que não são da mera ordem da necessidade, mas fundamentalmente do desejo." (Goldfarb, 1998, p.46)
A literatura aponta que existem dois momentos na vida onde o sujeito passa por um estranhamento em relação ao próprio corpo. O primeiro é na adolescência e o segundo na velhice.
Nas palavras de Goldfarb: "... a adolescência, em que o corpo cresce meio desproporcionado, e o sistema endócrino traz muitas novidades, mas onde fundamentalmente há a promessa de um futuro pleno de realizações. Mas quando um idoso se olha no espelho, o que este lhe devolve é uma imagem ligada a uma deteriorioração, uma imagem com a qual não se identifica. Não há júbilo nem alegria, há apenas estranheza, e ele pensa: "esse não sou eu". Novamente uma discrepância entre a imagem inconsciente do corpo e a imagem que o espelho lhe devolve." (Goldfarb, p.51)
"A imagem da velhice parece sempre estar 'fora', do outro lado, e embora saibamos que 'aquela' é a nossa imagem, nos produz uma impressão de inquietante estranheza, o apavorante ligado ao familiar. Apavorante porque a imagem do espelho não corresponde mais à imagem da memória; a imagem do espelho antecipa ou confirma a velhice, enquanto a imagem da memória quer ser uma imagem idealizada." (ibidem, p. 53)
Como é difícil perceber (e aceitar) nosso próprio envelhecimento, acontece de pessoas às vezes levarem literalmente um susto ao se olharem no espelho e perceberem as marcas do tempo em seu corpo.
Para ilustrar (e finalizar), leia o texto abaixo:
De: Mariana Frenk-Wenstein (escritora mexicana), 1995.
“Um dia a senhora NTS se viu no espelho e se assustou. A mulher do espelho não era ela. Era outra mulher. Por um instante pensou que fosse uma brincadeira do espelho, porém descartou esta idéia e correu a se olhar no grande espelho da sala. Nada. A mesma senhora. Foi no banheiro, no corredor, nos pequenos espelhinhos que carregava na sua bolsa, e nada. Aquela mesma senhora desconhecida estava lá. Decidiu sentar e fechar os olhos. Sentia vontade de fugir para um lugar bem longe onde não pudesse se encontrar com aquela pessoa. Porém era mais prudente ficar por perto, não deixá-la sozinha. Observá-la. Parou para refletir: quem poderia ser essa senhora? Talvez a que morou antes de mim neste apartamento?. Talvez a que morará aqui quando eu sair? Ou quem sabe, a mulher que eu mesma seria se minha mãe se tivesse casado com seu primeiro namorado? Ou quem sabe, a mulher que eu mesma teria gostado de ser? Lancei uma rápida olhada no espelho e decidi que não. De jeito nenhum eu teria gostado de ser essa senhora. Depois de pensar muito tempo, a senhora NTS chegou à conclusão de que todos os espelhos da casa tinham enlouquecido, agiam como atacados por uma doença misteriosa. Tentei aceitar a situação, não me preocupar mais, e simplesmente parar de me olhar no espelho. A gente pode viver muito bem sem se olhar no espelho. Guardei os pequenos espelhos de bolsa para tempos melhores, e cobri com panos os maiores. Um belo dia, quando por força do hábito estava me penteando frente ao espelho do armário, o pano caiu, e ali estava a outra me olhando, aquela desconhecida. Desconhecida? parece-me que já não tanto assim. Contemplo-a durante longos minutos. Começo a achar que tem um certo ar de família. Talvez esta dama compreenda minha situação e por pura bondade tente se adaptar a mim, a minha imagem que por tanto tempo habitou meus espelhos. Desde então , olho-me ao espelho todos os dias, a toda hora. A outra, não tenho dúvidas, se parece cada vez mais comigo. Ou eu com ela?"
*Texto escrito por Jéssica Calderon.
BIBLIOGRAFIA:
- Freud, S. "O ego e o id" (1923)
- Goldfarb, D.C. "Corpo, tempo e envelhecimento" - São Paulo: Casa do Psicólogo (1998).
Atendimento Psicológico - em Botafogo
Contato: jessicacalderon.psi@gmail.com
Jéssica Calderon - CRP: 05/39344
in Flor de Poemas
"Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
tão paradas e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Eu não dei por conta desta mudança,
tão simples, tão certa, tão fácil:
Em que espelho ficou perdida a minha face?"
O processo de envelhecimento é continuo e progressivo.
A cada dia nos tornamos mais velhos e não nos damos conta das pequenas mudanças cotidianas.
Isto a tal ponto de um dia, enfim, levarmos um grande susto ao percebermos como não somos mais como éramos antigamente.
Platão foi um filósofo que falava da dicotomia corpo e alma. Dizia ele que o corpo era a matéria, já a alma correspondia a algo imaterial, algo de divino no homem. No pensamento platônico há uma valorização da alma em detrimento do corpo que perece.
Freud quando teoriza sobre as instâncias psíquicas e fala da existência de um EU que constitui o sujeito, apesar de falar de um EU psíquico, portanto, subjetivo e imaterial, coloca-o encarnado no corpo, não sendo possível tratar o corpo como algo sem importância ou de menor valor.
Ele diz: "O Eu é um ser corpóreo, e não só um ser superficial, ele é também a projeção de uma superfície." (Freud, 1923, T.II, p.15)
A teoria psicanalítica não fala apenas da existência de uma interioridade do sujeito, ela afirma a dimensão corpórea deste, até porque a formação do Eu se articula com o corpo, a partir dos primeiros contatos do bebê com a mãe e, posteriormente, através de suas experiências com o próprio corpo.
A imagem que temos de nosso corpo não é uma imagem real, mas imaginária.
A imagem que temos de nosso corpo é criada a partir de nosso contato com o outro e com o mundo. É uma imagem criada a partir do investimento externo em nosso corpo. O bebê ao nascer não se diferencia em relação ao outro, só a posteriori seu Eu é contruído.
"A imagem do corpo, pelo contrário, é própria a cada sujeito e está ligada a sua história. É relacional, depende especialmente da história libidinal, se apresenta como síntese das experiências relacionais do sujeito desejante e pode ser considerada como sua encarnação simbólica. É eminentemente inconsciente; memória da vivência relacional sempre dinâmica, pois estrutura-se através da relação entre sujeitos e é nela que se inscrevem as experiências relacionais (valorizantes ou não, narcisisantes ou não), que não são da mera ordem da necessidade, mas fundamentalmente do desejo." (Goldfarb, 1998, p.46)
A literatura aponta que existem dois momentos na vida onde o sujeito passa por um estranhamento em relação ao próprio corpo. O primeiro é na adolescência e o segundo na velhice.
Nas palavras de Goldfarb: "... a adolescência, em que o corpo cresce meio desproporcionado, e o sistema endócrino traz muitas novidades, mas onde fundamentalmente há a promessa de um futuro pleno de realizações. Mas quando um idoso se olha no espelho, o que este lhe devolve é uma imagem ligada a uma deteriorioração, uma imagem com a qual não se identifica. Não há júbilo nem alegria, há apenas estranheza, e ele pensa: "esse não sou eu". Novamente uma discrepância entre a imagem inconsciente do corpo e a imagem que o espelho lhe devolve." (Goldfarb, p.51)
"A imagem da velhice parece sempre estar 'fora', do outro lado, e embora saibamos que 'aquela' é a nossa imagem, nos produz uma impressão de inquietante estranheza, o apavorante ligado ao familiar. Apavorante porque a imagem do espelho não corresponde mais à imagem da memória; a imagem do espelho antecipa ou confirma a velhice, enquanto a imagem da memória quer ser uma imagem idealizada." (ibidem, p. 53)
Como é difícil perceber (e aceitar) nosso próprio envelhecimento, acontece de pessoas às vezes levarem literalmente um susto ao se olharem no espelho e perceberem as marcas do tempo em seu corpo.
Para ilustrar (e finalizar), leia o texto abaixo:
De: Mariana Frenk-Wenstein (escritora mexicana), 1995.
“Um dia a senhora NTS se viu no espelho e se assustou. A mulher do espelho não era ela. Era outra mulher. Por um instante pensou que fosse uma brincadeira do espelho, porém descartou esta idéia e correu a se olhar no grande espelho da sala. Nada. A mesma senhora. Foi no banheiro, no corredor, nos pequenos espelhinhos que carregava na sua bolsa, e nada. Aquela mesma senhora desconhecida estava lá. Decidiu sentar e fechar os olhos. Sentia vontade de fugir para um lugar bem longe onde não pudesse se encontrar com aquela pessoa. Porém era mais prudente ficar por perto, não deixá-la sozinha. Observá-la. Parou para refletir: quem poderia ser essa senhora? Talvez a que morou antes de mim neste apartamento?. Talvez a que morará aqui quando eu sair? Ou quem sabe, a mulher que eu mesma seria se minha mãe se tivesse casado com seu primeiro namorado? Ou quem sabe, a mulher que eu mesma teria gostado de ser? Lancei uma rápida olhada no espelho e decidi que não. De jeito nenhum eu teria gostado de ser essa senhora. Depois de pensar muito tempo, a senhora NTS chegou à conclusão de que todos os espelhos da casa tinham enlouquecido, agiam como atacados por uma doença misteriosa. Tentei aceitar a situação, não me preocupar mais, e simplesmente parar de me olhar no espelho. A gente pode viver muito bem sem se olhar no espelho. Guardei os pequenos espelhos de bolsa para tempos melhores, e cobri com panos os maiores. Um belo dia, quando por força do hábito estava me penteando frente ao espelho do armário, o pano caiu, e ali estava a outra me olhando, aquela desconhecida. Desconhecida? parece-me que já não tanto assim. Contemplo-a durante longos minutos. Começo a achar que tem um certo ar de família. Talvez esta dama compreenda minha situação e por pura bondade tente se adaptar a mim, a minha imagem que por tanto tempo habitou meus espelhos. Desde então , olho-me ao espelho todos os dias, a toda hora. A outra, não tenho dúvidas, se parece cada vez mais comigo. Ou eu com ela?"
*Texto escrito por Jéssica Calderon.
BIBLIOGRAFIA:
- Freud, S. "O ego e o id" (1923)
- Goldfarb, D.C. "Corpo, tempo e envelhecimento" - São Paulo: Casa do Psicólogo (1998).
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Sobre a morte - parte III
A morte nos afronta por mostrar-nos nossa não-onipotência. Nossa vulnerabilidade em relação ao mundo, frustrando o desejo humano de imortalidade. Nas palavras de Freud: "...essa exigência de imortalidade, por ser tão obviamente um produto dos nossos desejos, não pode reivindicar seu direito à realidade, o que é penoso". (Freud, p. 137)
Os idosos ao perceberem a morte ao lado, falecimento de pessoas próximas, podem começar a pensar na sua própria morte e se angustiar com isto.
Através da morte dos outros, somos obrigados a admitir este aspecto da vida e, como não sabemos como é morrer, temos a morte como uma ameaça, pois é algo que não conhecemos realmente. Em termos psicanalíticos, não temos a representação da nossa própria morte, embora a única certeza que podemos ter na vida é que um dia vamos morrer.
Birman diz: "A subjetividade é tocada então pela morte, na sua pretensão à eternidade. (...) de fato é a mortalidade do sujeito que se revela de maneira brutal e inesperada quando alguém morre. O sujeito é ferido de morte, literalmente." (Birman, p. 139)
BIBLIOGRAFIA;
- Freud, S. "Sobre a transitoridade" (1916), p.25.
- Birman, J. "Nada que é humano me é estranho" in Cartografias do feminino, p.139.
* Texto escrito por Jéssica Calderon.
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segunda-feira, dezembro 06, 2010
Onde ficará sua independência quando você envelher?
O envelhecimento é um aspecto temido da vida, pois coloca em cheque o poder que pensamos ter, nossa potência, e nossa pretensão de independência em relação ao outro. Numa sociedade marcadamente individualista, podemos imaginar o quão duro é para alguém ver-se à merce da ajuda alheia.
"A maneira como as pessoas dão conta, quando envelhecem, de sua maior dependência dos outros, da diminuição de sua força potencial, difere amplamente de uma para outra. Depende de todo o curso de suas vidas e, portanto, da estrutura de sua personalidade." (Elias, N. - p.82)
Como você, leitor do meu blog, lida com relação a sua dependência X independência em relação às outras pessoas hoje? Você pode imaginar como será isso daqui há uns anos?
"Há pessoas em muitos asilos hoje que têm que ser alimentadas, postas no vaso sanitário e limpas como crianças pequenas. (...) o processo de envelhecer produz uma mudança fundamental na posição de uma pessoa na sociedade, e, portanto, em todas as suas relações com os outros. O poder e o status das pessoas mudam, rápida ou lentamente, mais cedo ou mais tarde, quando elas chegam aos sessenta, aos setenta, oitenta ou noventa anos." (Elias, N. - p.83)
Quando os pais envelhecem, pode ser que os filhos passem a tomar decisões por eles. Inverte-se os papéis de outrora, cuidador X cuidado.
Quando a geração mais jovem assume a função do cuidar pode fazê-lo de diversas maneiras, amorosamente ou não.
Quando o estado de saúde dos pais está mais comprometida, às vezes os filhos deparam-se com dilemas específicos, tais como: Colocar num asilo ou não? Contratar um cuidador profissional? A qual dos filhos caberá o cuidar? Estes são alguns exemplos de questões delicadas, que acarretam muitas implicações.
Como será nosso futuro quando idosos não podemos prever. Porém, podemos investir na qualidade das relações que estabelecemos no aqui-e-agora. É isto o que pode, não garantir, mas facilitar uma velhice mais bem cuidada e cercada de amor.
*Texto escrito por Jéssica Calderon.
BIBLIOGRAFIA:
- Elias, N. "A solidão dos moribundos, seguido de envelhecer e morrer." Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2001.
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Jéssica Calderon - CRP: 05/39344
quinta-feira, dezembro 02, 2010
A ditadura da "terceira-idade"
O conceito "terceira idade" veio para se contrapor aos estigmas de dor e perdas associados à velhice. Quando falamos em "terceira idade" introduzimos as idéias de atividade, participação na sociedade e busca de prazer e realização pessoal.
Se pensarmos que a diferença entre ser "velho" e ser "terceira idade" está numa maior qualidade de vida, essa diferenciação pode parecer muito saudável. Mas quero aqui chamar a atenção para outro aspecto.
Não há nada de mal em incentivar nossos velhos a viverem com mais jovialidade, aproveitando o melhor que podem em suas vidas. Contudo, não podemos cair na tentação de uma espécie de imposição de um estilo de vida ideal para todos os idosos.
Parece que o bom idoso é aquele que está sempre sorrindo, que vai a academia, que participa de bailes da terceira idade, etc. Parece que uma posição mais introspectativa, mais caseira, menos socialmente ativa é uma atitude de menos valor.
Não há como negar que existem dores físicas e emocionais associadas ao processo do envelhecimento. É preciso haver espaço para que tais dores possam ser explicitadas e não jogadas pra embaixo do tapete como se não existissem.
Precisamos permitir que nossos idosos se queixem de suas "dor nas cadeiras", para que chorem pelo cônjuge falecido, que possam contar e recontar suas histórias de "No meu tempo...", etc.
Às vezes, os mais jovens não têm muita paciência para acolhecer essas formas de expressão dos idosos... não entendem que esta é uma forma que eles encontraram para elaborar suas próprias questões.
Vamos ter cuidado com esse esteriótipo do "bom idoso" e o culto a uma imagem de "super idoso" - aquele com comportamentos e estilo de vida "ideais".
Vamos olhar para os padrões que são impostos com certa desconfiança e incentivar a autenticidade e a livre expressão de todos os aspectos relativos ao envelhecer.
Que haja espaço para alegria e para a dor, porque tudo é humano!
*Texto escrito por Jéssica Calderon.
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