A gente cresce na relação com o outro.

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terça-feira, novembro 30, 2010

A velhice não é natural!




Envelhecer é biológico. A velhice é uma categoria histórica e social.

Envelhecer é um processo natural, do ponto de vista biológico. Mas a forma como lidamos com a idéia do envelhecimento isso é moldado histórica e socialmente. A velhice é uma categoria social, assim como a infância e a adolescência. Ou seja, são instâncias que nem sempre existiram. Para ficar mais simples de entender, é só pensar na questão das crianças. Hoje em dia há toda uma proteção em torno da infância, mas antigamente isso não fazia o menor sentido; as crianças eram vistas como "mini-adultos", por isso, era comum, por ex., que trabalhassem nas indústrias.
Por isso, quando falo que a velhice não é natural, estou dizendo que não é algo dado e imutável; não é um fato biológico, mas é uma categoria social.

A velhice não é a mesma aqui, na China ou em Nova Iorque.

A velhice não é igual para todos, não foi sempre do mesmo jeito e depende da sociedade em questão. Por exemplo, deve ser bem diferente ser um velho numa sociedade oriental que ainda preserve suas tradições do que um velho nova-iorquino inserido no coração do capitalismo ocidental. A própria idéia de "terceira idade" é uma nova categoria para falar de idosos ativos; é mais uma construção social, tipicamente brasileira.

Duas categorias - Ser "terceira idade" não é ser "velho".

Os termos "terceira idade" e "velho" marcam uma diferença entre dois sujeitos que podem até ter a mesma idade cronológica, mas vivem a velhice de forma completamente diferente. Em geral, essa diferença é fortemente influenciada pela posição social/econômica do sujeito. O "velho" é pobre, têm dores, doenças e dinheiro para consumir basicamente remédios. O "terceira idade" tem uma condição financeira melhor que o permite, além de consumir remédios quando necessário, também consumir outros serviços, cosméticos, lazer, cultura, etc. Por isso se ventila por aí o quanto é legal ser do grupo da "terceira idade" e não dos "velhos", porque além da idéia de maior qualidade de vida que está associada ao primeiro grupo, ser da "terceira idade" é continuar alimentando o sistema capitalista; é um interesse econômico.

Idade cronológica e nível de maturidade são coisas diferentes!

Os estágios de maturidade podem diferir da ordem de nascimento. O grau de maturidade da pessoa varia de acordo com n fatores, o quanto ela se permitiu experienciar coisas novas, sua disponibilidade para apreender com o outro, sua flexibilidade de pensamento, as situações de vida pelas quais passou, seu grau de autoconhecimento e autoaceitação, e muitos outros fatores que possivelmente eu desconheça. O fato de ser mais velho não deveria autorizar as pessoas a acharem que sabem mais que outras mais jovens.

A criação da categoria "velhice", assim como a criação de "infância", "adolescência" e "idade adulta", se pautou pela idade cronologica dos sujeitos, sendo possível então a institucionalização do curso da vida. Para que isto serve?? Serviu para uma maior organização social a partir das idades, organizando as posições nas diferentes instituições: família, fábrica, escola, etc. Dizendo de forma mais simples, essa definição de categorias ajuda ao Estado a regulamentar o curso da vida dos indivíduos. Pode-se então dizer: "Agora é hora de ir pra escola; Agora tempo de trabalhar e, por fim, hora de se aposentar."

A velhice como um problema social.

Por que pensar em políticas públicas para a população idosa é algo tão em voga atualmente? Será que por conta do aumento vertiginoso dessa população? Não somente!! A questão dos idosos no Brasil (e no mundo) é relevante por uma questão econômica. Com tantos idosos, que, muitas vezes, necessitam da ajuda do Estado e estão afastados do sistema produtivo capitalista, quem (e quantos) serão aqueles que estarão disponíveis para o mercado de trabalho? É possível que de alguma forma essas pessoas mais velhas possam ainda contribuir para produção e circulação de riquezas? Quem financiará as pensões dos aposentados??

* Texto escrito por Jéssica Calderon.

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segunda-feira, novembro 29, 2010

Sobre a morte - parte II




Norbert Elias é um sociólogo alemão que nos oferece algumas reflexões acerca da solidão daqueles que, prestes a morrer, são isolados pela família e amigos. Segundo o autor, a idéia da morte é tão evitada pelas pessoas (ainda que não percebam) que acabam por se afastar de tudo o que lhes lembre o tema, como parentes e amigos que estejam gravemente doentes.

"...um dos problemas mais gerais de nossa época - nossa incapacidade de dar aos moribundos a ajuda e afeição de que mais que nunca precisam quando se despedem dos outros homens, exatamente porque a morte do outro é uma lembrança de nossa própria morte." (Elias, p.16)

"E os viventes podem, de maneira semiconsciente, sentir que a morte é contagiosa e ameaçadora; afastam-se involuntariamente dos moribundos. Mas, para os íntimos que se vão, um gesto de afeição é talvez a maior ajuda, ao lado do alívio da dor física, que os que ficam podem proporcionar." (Elias, p.37)

A forma como lidamos com a morte é influenciada pelo contexto histórico e social - Na atualidade, com os avanços da medicina e da tecnologia, é possível prolongar nossos dias, por isso, é mais fácil passar pela vida quase como se a morte não existisse.
Já na Idade Média, onde a morte era bem mais cotidiana, defrontar-se com esta questão era bem mais frequente, até mesmo para as crianças (tão poupadas nos dias de hoje). Dizer isto não significa dizer que a morte era encarada de forma mais pacífica ou menos dolorosa.

Os "monstros" que cercam a morte também mudam de acordo com o contexto histórico e social -
Na Idade Média a morte era fisicamente mais dolorosa, pois não dispunha de tantos avanços da medicina e era rodeada por sentimentos de culpa, já que a Igreja tinha grande influência e pregava a existência de um inferno terrível para os pecadores.
Atualmente a morte é menos precoce, mais inodora, menos atormentada por fantasmas de culpa, porém menos "assistida", ou seja, antes o indivíduo morria com muitas pessoas ao seu redor, hoje não raro os moribundos são relegados ao isolamento afetivo. Muitas vezes os sujeitos em seu leito de morte estão cercados por médicos e seus cuidados, mas completamente ilhados em relação a seus entes queridos.

"Nunca antes as pessoas morreram tão silenciosa e higienicamente como hoje nessas sociedades, e nunca em condições tão propícias à solidão." (Elias, p.98)

Elias relaciona o silêncio que defendemos em torno dos mortos aos nossos próprios medos inconscientes. Ele diz: "E a solenidade com que funerais e túmulos são cercados, a idéia de que deve haver silêncio em torno deles, de que se deve falar em voz abafada nos cemitérios para evitar perturbar a paz dos mortos - tudo isso são realmente formas de distanciar os vivos dos mortos, meios de manter à distância uma sensação de ameaça (medo da morte e dos mortos)." (Elias, p.40)

Uma das características de nossa sociedade contemporânea é o individualismo. Este repercute inclusive na forma como morremos e como deixamos morrer. Parece que, assim como outros aspectos da vida, a morte é um problema individual, por isso nossas dificuldades em assistir aos outros em sua morte e em mostrar a fragilidade de nossa própria morte.

Será que podemos pensar em um caminho para a boa morte?
"O modo como uma pessoa morre depende em boa medida de que ela tenha sido capaz de formular objetivos e alcançá-los, de imaginar tarefas e realizá-las." (Elias, p.72)
Importa o quanto sentimos que construímos algo positivo na vida.

Não há uma posição rígida e única, deixar o moribundo isolado ou rodeado de pessoas. Não pode haver uma ditadura do melhor comportamento. Penso que devemos estar atentos ao desejo e necessidade do outro e, na medida do possível, respeitar isto.


* Texto escrito por Jéssica Calderon

BIBLIOGRAFIA:
- Elias, Norbert, 1897-1990. "A solidão dos moribundos", Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Ed., 2001)


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Sobre a Morte - parte I




Os homens fazem discursos a respeito da morte, dizem ser este um processo natural e inevitável. Porém, para além do discurso racional, o homem não consegue admitir de verdade a idéia da própria morte. A Psicanálise diz que o homem não crê na própria morte; que inconscientemente pensamo-nos imortais. Para nós a morte (assim como o envelhecimento) é sempre do outro. "Nosso inconsciente, portanto, não crê em sua própria morte; comporta-se como se fosse imortal." (Freud, p.335)

Tendemos a encarar as mortes ao nosso redor como obra do acaso; procuramos justificar a morte, ex: "morreu porque estava doente" ou "estava muito velho", ao invés de "morreu porque é natural morrer". Ficamos muito sensibilizados com a morte de pessoas próximas a nós, talvez porque isto nos lembre, de certa forma, que também vamos morrer.

"Para com a pessoa que morreu adotamos uma atitude especial - algo próximo da admiração por alguém que realizou uma tarefa muito difícil."(Freud, p.328)
É por isso que, quando alguém morre, tendemos a enxergar apenas suas virtudes.

É somente através das artes, músicas, literatura, dramaturgia, que os homens permitem-se aproximar do tema morte. Exceto na guerra, obviamente, quando a morte é encarada de forma mais corriqueira.

Os homens criam a idéia da vida após a morte para se confortar diante da perda de alguém querido e para não admitir que sua morte é seu fim. A religião oferece esse conforto aos homens.

Além disso, nossos sentimentos são ambíguos; podemos sentir amor e ódio pela mesma pessoa sem nos darmos conta. Por vezes, desejamos a morte de pessoas próximas de forma inconsciente e, quando estas morrem mesmo, podemos nos sentir culpados sem entender o porquê.

"Nosso inconsciente não executa o ato de matar, ele simplesmente o pensa e o deseja. Mas seria completamente errado subestimar essa realidade psíquica quando posta em confronto com a realidade factual. Ela é bastante importante e grave. Em nossos impulsos inconscientes, diariamente e a todas as horas, nos livramos de alguém que nos atrapalha, de alguém que nos ofendeu ou nos prejudicou. A expressão 'Que o Diabo o carregue!', é em nosso inconsciente um sério e poderoso desejo de morte. De fato, nosso inconsciente assassinará até mesmo por motivos insignificantes." (Freud, p.336)

Em suma, segundo Freud, nosso inconsciente não aceita a própria morte, inclina-se ao assassinato em relação aos estranhos e é ambivalente para com aqueles que ama.

"Se queres suportar a vida, prepara-te para a morte."


* Texto escrito por Jéssica Calderon.


BIBLIOGRAFIA:
- Freud, v. XIV, "Reflexões sobre guerra e morte", 1915.
- Freud, v. XIV, "Sobre a transitoriedade", 1915.


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Nós e o dinheiro (para mulheres)




As mulheres têm, sim, muita dificuldade para manter a conta bancária no azul, investir corretamente e planejar seu futuro com tranquilidade. Especialistas no assunto explicam por que isso acontece.
Texto • Melissa Diniz // Fotos: istockphoto

Existe uma idéia recorrente no imaginário popular de que nós, mulheres, somos muito boas para gastar, mas péssimas para investir nosso dinheiro. Não resistimos a uma liquidação, adoramos o cartão de crédito e não pensamos duas vezes em pagar caro por um presente. Mas dificilmente conseguimos planejar nossa aposentadoria ou fazer uma aplicação rentável sem depender do pai, do marido ou do gerente do banco.

Parece preconceito, mas não é. No livro As Mulheres e o Dinheiro (ed. Nova Fronteira), a escritora e apresentadora de TV norte-americana Suze Orman, autora de seis best-sellers sobre finanças, afirma que relutou muito até aceitar que, sim, o sexo feminino tem uma grande dificuldade em administrar suas contas e investimentos. Ela mudou de idéia após se deparar com inúmeros casos de amigas e parentes que viviam endividados, independentemente do quanto ganhassem, e decidiu estudar o assunto.

O que não passava de uma impressão revelou-se uma verdade quando uma pesquisa, realizada por uma seguradora norte-americana, em 2006, demonstrou que 90% das mulheres do país se sentiam inseguras sobre os próprios rendimentos e temiam perder tudo o que tinham conquistado. Segundo Suze, o principal motivo para isso é, de fato, uma questão de gênero: nossa natureza é dócil, frágil e maternal. Já o mercado financeiro é um terreno arenoso, onde, para sobreviver, é preciso certa dose de agressividade, característica essencialmente masculina.
Nada mais natural, então, do que deixarmos as contas e planejamentos futuros para eles. Afinal, nossas prioridades são outras, não menos importantes. Para o psicoterapeuta junguiano Waldemar Magaldi, autor do livro Dinheiro, Saúde e Sagrado (ed. Eleva Cultural), faz parte da essência feminina dar mais importância aos relacionamentos interpessoais do que a questões da vida prática. “Por produzir em abundância o hormônio oxitocina, responsável pelos vínculos afetivos e amorosos, a mulher, instintivamente, é orientada a encontrar um provedor e está muito mais voltada para cuidar do matrimônio que do patrimônio”, afirma.

A oxitocina, conhecida como hormônio do amor, é produzida ao longo de nossa vida, mas liberada em altas doses quando estamos apaixonadas, amamentando e no momento do parto. É ela que desperta em nós o instinto de cuidar. Essa substância também pode alterar nossa capacidade de tomar decisões financeiras. “A grande maioria das mulheres põe a família em primeiro lugar. Não é raro ver que, em uma lista de prioridades que inclua filhos, marido e irmãos, elas se coloquem por último”, afirma a psicóloga Eliana Bussinger, mestre em economia pela Fundação Getúlio Vargas e autora dos livros As Leis do Dinheiro para Mulheres e A Dieta do Bolso (ambos da ed. Elsevier/Campus). Em última instância, isso significa que, na dúvida entre comprar um presente para agradar alguém e poupar dinheiro para uma eventualidade, provavelmente vamos ficar com a primeira opção.

O peso da cultura

Não se trata de falta de inteligência, mas de uma herança cultural que nos assombra. “As mulheres cuidam até que muito bem do que costumo chamar de pocket money, dinheiro relativo às despesas diárias, semanais ou mensais da casa. O problema maior está associado à administração financeira de prazo mais longo, função que, historicamente, ficava a cargo dos homens”, afirma Eliana.

É bom lembrar que, na clássica divisão social de papéis, os homens sempre foram os provedores. Durante séculos, vivemos em uma sociedade patriarcal em que eles detinham o poder, principalmente no que dizia respeito ao dinheiro. “As mulheres de 40 a 50 anos ainda hoje sofrem com os reflexos desse modelo antigo e podem não se sentir autorizadas ou competentes para administrar suas próprias finanças”, explica a psicoterapeuta de casal e de família Lana Harari, especialista em psicologia financeira.

É bem verdade que esse cenário se modificou rapidamente nas últimas décadas. Desde 1970, período do milagre econômico no Brasil, muitas mulheres vêm se tornando chefe de família, mas tal alteração ainda é recente para nós. Essa é a opinião da psicanalista Márcia Tolotti, especialista em psicologia organizacional e do trabalho e autora do livro As Armadilhas do Consumo (ed. Elsevier/Campus). Para ela, a entrada tardia das mulheres no mercado de trabalho criou um consenso difícil de ser mudado. “Quando a cultura reforça uma situação, estabelece-se uma espécie de verdade. As mulheres foram tachadas de desconhecedoras das finanças e esse aspecto reverberou por décadas, tornando-se uma espécie de mantra”, diz.

Cabe a nós a ingrata tarefa de romper com esse paradigma ainda vigente e jogar por terra a carapuça de más investidoras. O peso desse rótulo, explica Márcia, nos impedede aceitar que podemos ganhar mais: “Se você acredita que não pode, não pode mesmo”, acrescenta. Ainda hoje, a remuneração feminina, em todo o mundo, representa 30% a menos que a dos homens nas mesmas funções.

O papel das crenças

Em suas pesquisas, Suze Orman constatou que as crenças pessoais e a religião podem também, em alguns casos, dificultar bastante o sucesso financeiro feminino. Muitas mulheres temem ser consideradas materialistas e egoístas quando enriquecem. Isso porque, diante de dilemas como aquele de comprar ou não o presente, elas optam por fazer uma reserva e investir no futuro. Mas, paradoxalmente, com a prosperidade vem a culpa.

O sentimento de culpa atrelado ao sucesso está fortemente enraizado na sociedade brasileira, explica Eliana, mas de maneira controversa. “Ao mesmo tempo que exaltamos a riqueza, desprezamos os que têm dinheiro. Somos empurrados a crer que as pessoas ricas e bem-sucedidas são desonestas e que há algo especial em ser pobre”, avalia.

A psicoterapeuta Lana Harari lembra que a influência cristã muitas vezes nos faz associar dinheiro a pecado, opondo a riqueza material à espiritual em ensinamentos como “é mais fácil um camelo atravessar o buraco de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus”. Esses ideais passam de geração a geração, formam valores e fundamentam decisões que podem, na verdade, refletir atitudes que vão desde o comodismo, o esbanjamento até a generosidade, o egoísmo ou a prosperidade.

Assim como a religião nos influencia, a relação de nossa família com o dinheiro acaba se tornando uma espécie de padrão. Ou seja: todas nós herdamos um modelo financeiro de nossos pais e podemos decidir repeti-lo ou não. Isso vai depender de informações e exemplos que recebemos fora do universo familiar ao longo de nossa vida e da liberdade que temos para definir nosso rumo financeiro.

Em alguns casos, o histórico familiar pode se tornar uma espécie de sina. “Em minha prática clínica, vejo freqüentemente pessoas serem dominadas pela vida não vivida ou mal vivida de seus pais ou ancestrais, o que as impede de conquistar sua realização existencial. E, quando há sucesso ou fracasso financeiro envolvido, parece que essa temática fica ainda mais forte”, explica Magaldi.

Sem contar os modelos sociais femininos com os quais nos identificamos. A neurociência já comprovou que somos influenciadas por nossa mãe, nossas avós e pela sociedade feminina em geral e acabamos nos comportando de modo semelhante. “Tal fato se deve à ação dos neurônios-espelho, que nos impelem a imitar outras pessoas de maneira inconsciente”, afirma Márcia.

Talvez por isso a relação feminina com o dinheiro tenha se tornado um fenômeno de massa: a maioria de nós, mulheres, compra em demasia, não se prepara para a velhice, gasta mais do que pode com a casa e com os filhos e não acredita em sua própria capacidade de enriquecimento.

No que se refere ao consumismo, mais uma questão importante aparece: a pressão atual da moda e da beleza. “Infelizmente, muitas mulheres acabam cedendo a esse apelo mercadológico e consomem objetos para continuarem sendo objetos”, afirma Magaldi.

Maturidade financeira

A relação que temos com o dinheiro, diz Lana, é sempre emocional, constrói-se desde a infância e continua se formatando pela vida afora. Na opinião de Suze, o dinheiro é uma extensão de nós mesmas. Assim, um patrimônio duradouro e consistente só é possível quando temos a auto-estima bem estruturada. Em outras palavras: quando nossa auto-imagem é bem resolvida e temos segurança emocional, corremos menos risco de gastar por impulso em liquidações e nos vitimar pelo consumismo exagerado em busca de consolo ou de aprovação social.

O impacto das finanças em nossa vida não para por aí. Nós sabemos que, quando nossas questões econômicas estão fora de controle, tudo parece ficar mal. “A saúde física e mental são afetadas, os relacionamentos se modificam, o sexo é abalado e a produtividade cai. Então, o controle financeiro facilita as relações, o desenvolvimento intelectual e até a criatividade”, diz Eliana.

Além disso, a mulher é mais respeitada por todos quando atinge a maturidade financeira, ou seja: se tem um orçamento equilibrado, não gasta além do que ganha, não se endivida, possui reservas sólidas e não depende de ninguém, explica a psicoterapeuta Lana Harari.

É importante lembrar que submissão econômica não tem nada a ver com o valor do salário. Trata-se de uma questão afetiva, já que muitas mulheres se colocam na posição de vítima por opção. “Atualmente, diversos pesquisadores têm mostrado que, mesmo quando são independentes, elas ainda esperam o apoio dos homens no âmbito do dinheiro. Isso demonstra que ainda levará algum tempo para que a autonomia feminina deixe de ser sabotada pelas próprias mulheres”, explica Márcia.

Qualquer mudança de atitude diante do controle financeiro passa por admitir a insegurança ao lidar com o dinheiro. Muitas resistem a isso pelo medo de serem tachadas de incompetentes ou fracassadas, sobretudo pelos parceiros. “Assim como acontece com o dependente químico, a pessoa não quer reconhecer para os outros e para si mesma que tem problemas para lidar com o capital. Ela prefere se iludir e acreditar que possui o controle da situação, que a dificuldade é passageira e que vai conseguir revertê-la”, diz Lana.

Na verdade, não há motivo para ter medo. Se chegamos até aqui é porque somos capazes de ir além e transformar essa relação a qualquer momento. O caminho é encarar as próprias limitações, identificar e modificar comportamentos nocivos – e nisso a psicoterapia pode ajudar. Também vale investir na própria educação financeira, criar o hábito de ler as colunas especializadas e participar de cursos e palestras. Outro recurso interessante é contratar um consultor para analisar sua situação e sugerir estratégias.

Em nossa sociedade capitalista, não há como negar: dinheiro é poder. E, com a emancipação feminina, a busca pelo sucesso financeiro passou a fazer parte de nossas ambições. Assim, surge um novo tipo de mulher, muito mais objetiva e pragmática frente às questões econômicas. “Além de trabalhar, ser bonita e sedutora, ela ainda precisa tomar conta das atividades domésticas, dos filhos e do seu companheiro. Obviamente, vai deixar os homens assustados”, conclui Magaldi.

Quem é essa nova (super) mulher bem-sucedida?

» É independente emocional e financeiramente.
» É segura do que quer e de como vai conseguir.
» Confia em sua capacidade de obter sucesso.
» Esbanja disciplina, persistência e tem ampla visão de futuro.
» É capaz de traçar metas claras a curto, médio e longo prazo.
» Costuma manter uma relação saudável com o consumo desnecessário.
» Não se rende à satisfação imediata provocada por compras supérfluas.
» Sabe investir o seu capital, conhece e respeita o próprio perfil financeiro.
» Não usa o dinheiro como uma arma – um motivo para vingança e vitimação – ou para obter controle no relacionamento.
» Consegue manter o domínio mental e emocional em situações extremas.
» Preserva a intuição e a natureza feminina, mas não se deixa levar pelas emoções.
» Evita o otimismo exagerado que oculta problemas reais.

Fontes: Márcia Tolotti, Lana Harari e Eliana Bussinger
(Revista Bons Fluidos, Ed. de Junho/2010)


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terça-feira, novembro 16, 2010

O jogo de jogar coisas fora



Já em clima de reveillón, vou compartilhar com vocês um hábito meu. Adoro nos últimos meses do ano dar uma geral na casa, tudo! Armários, roupas velhas, mudar coisas de lugar... enfim, renovar!!

Achei uma matéria super legal na revista "Bons Fluidos", aliás revista que gosto bastante!

Vou compartilhar com vocês aquilo que mais aproveitei dessa matéria.
Segue abaixo.

"O jogo de jogar coisas fora"

Faz bem livrar-se de tudo que está atulhando a casa, o trabalho e a vida.

Muitas vezes, só mantemos algo por não sabermos o que colocar no lugar. “Os objetos são vistos como uma extensão de nossa personalidade”, comenta o antropólogo Arthur Shaker, professor de meditação budista da Casa de Dharma, em São Paulo. “Abrir mão deles seria como abrir mão de si mesma.” Nesse sentido, cada objeto assume uma significação simbólica e, em algumas ocasiões, isso passa a ter mais força do que o objeto em si. Aquela fruteira velha é importante porque foi dela que seus filhos pegaram o alimento que os fez crescer. Mas você continuará a ser a mãe amada mesmo se livrando da fruteira, pois pode nutrir seus filhos de sentimentos que independem de qualquer objeto.

POR QUE GUARDAMOS TANTO?

“Muitas vezes, guardamos algo de alguém que se foi como uma homenagem, até sermos capazes de realizar nossa despedida interna”, avalia Lana Harari, psicóloga de família de São Paulo.
Há, ainda, o desejo de se precaver contra todas as eventualidades que o futuro possa trazer. Vai que ocorra uma enchente e você precise daquela galocha guardada há anos.
Pode ser também insegurança com relação ao futuro, medo de se livrar e não conseguir aquilo novamente.
Além disso, libertar-se do que está sobrando na nossa vida contradiz um valor muito cultuado hoje. “Vivemos numa época em que lutamos o tempo todo para que as coisas não fujam de nossas mãos”, lembra Arthur.

COISAS DEMAIS ATRAPALHAM

Ao abandonar coisas que não têm mais valor ou utilidade, você estará seguindo os passos de Michelangelo. Ou seja, segundo a autora, sua essência realmente dará as caras, a partir do momento em que remover tudo o que você não é. Tanto quanto adquirir coisas, livrar-se delas também é uma questão de estilo. O que fica revela sua marca.
Desfazer-se do peso morto ainda abre espaço para a introspecção. Ambientes atulhados causam uma superexcitação. “A mente fica o tempo todo sendo arrastada pelo objeto e não descansa nunca”, descreve Arthur. Não é à toa que os mosteiros budistas, ambientes que convidam à meditação, são de decoração espartana. “Assim é possível olhar para dentro de si mesmo”, arremata.
Viver tropeçando no que não serve acaba atravancando o fluxo de energia. “Toda casa tem uma energia que chamamos de chi”, explica Franco Guizzetti, consultor de feng shui, de São Paulo. “O chi não circula em ambientes atulhados, cheios de objetos, saturados. A energia fica estagnada”, completa ele. Essa regra vale também para coisas que ficam paradas durante muito tempo. Se não quer se livrar de algo, torne-o útil. É preciso ler os livros comprados, consertar o que está quebrado, tirar o aparelho de jantar de porcelana do armário.
Existe também a filosofia de destronar o velho para impor o novo”, descreve Lana. Mas quem ditou que tudo precisa ser tão efêmero? É ótimo livrar-se de peças sem serventia, mas não é tão bom assim gerar lixo. E não estamos aqui chamando de lixo apenas aquilo que está estragado, mas objetos que, ainda em bom estado, são encostados facilmente em nome da modernidade. “Talvez a solução não seja apenas jogá-los fora, mas sequer adquiri-los”, diz Arthur. Nem sempre o que é mais novo tem qualidade melhor. E, mesmo que tenha, o anterior talvez já garantisse qualidade suficiente.
“Jogar coisas fora pede coragem e manda uma mensagem para o mundo: quero me renovar”, diz Lana.
Tomada a decisão, vale uma dica prática de Gail Blanke em seu livro Jogue Fora 50 Coisas. Ela sugere pegar três sacos grandes de lixo e etiquetá-los: lixo (propriamente dito), doação e venda. Quando algo entrar em algum deles, não pode mais sair. O segredo é passear com eles pelos vários cômodos e fazer com que se encham com tudo o que é inútil. Esse processo não precisa ser feito em um dia só.
Depois do excesso material, vem o mental. Pode ser tudo junto também se preferir. Mas é imprescindível livrar-se dos dois. Enquanto as pilhas velhas, as roupas antigas e os parafusos inúteis se acumulam na casa de todo mundo, o lixo mental é mais específico e pessoal. Fica difícil traçar um plano. Pode ser um bom caminho começar com as lembranças incômodas, as mágoas não resolvidas. E, principalmente, as ideias preconcebidas que tem de si mesma. Jogue fora, sem pestanejar, o “não sou boa o suficiente”. Gail sugere, ainda, mais algumas sensações que podem ir para o saco: arrependimentos, a tendência de sempre pensar no pior, a convicção de que precisa fazer tudo sozinha.
“A decisão de pôr mãos à obra e reorganizar o espaço interno e externo tem um efeito transformador. Abre espaço para uma nova disposição, um novo jeito de se posicionar na vida”, diz.

Com a mão no lixo

O desafio de jogar 100 (ou quase) objetos/sentimentos que só atulham o caminho e atrapalham a vida.

VAMOS LÁ:
1) Potes e potes, das mais variadas cores e tamanhos, com resto de comida na geladeira.
2) Excesso de ímãs inúteis na porta da geladeira.
3) E-mails antigos sem a menor importância.
4) Revistas, livros e jornais velhos e sem importância.
5) Sigo a filosofia de que “sai roupa, entra roupa”. Quando você abre espaço, chega logo coisas novas e mais modernas. Separe roupas que não usa mais, coloque umas num bazar e faça dinheiro! Outras doe!
6) Peças de cozinha velhas e/ou inúteis.
7) Dê uma limpa no quintal.
8) Dê uma limpa nas gavetas!
9) Cosméticos velhos e remédios vencidos.
10) Sabonetinhos de hotel e motel com cheiro duvidoso.
11) Maquiagem velha.
12) As bijuterias não usadas.
13) As más lembranças e fracassos também devem ir para o lixo. Pouco adianta ficar remoendo.
14) Descartar a velha mania de ficar 5 minutinhos a mais na cama, pois acabam virando 20 e atrapalham todo o dia.
15) Agendas antigas
16) Fitas cassete e CD-ROM. Mas tenha o devido cuidado de gravar em um arquivo seguro o material importante.
17) Caderno e material inútil da escola e faculdade.
18) Caixas vazias.
19) Algumas fotos horríveis.
20) E, por falar em fotos, há uma música do Paralamas do Sucesso que fala em “cartas e fotografias, gente que foi embora”. Não tenho cartas guardadas, já falei das fotos, mas o “gente que foi embora” pega. Não digo os que morreram, pois quero guardá-los em um cantinho carinhoso, mas aqueles que passaram pela vida da gente, fizeram sofrer e, de vez em quando, aparecem na memória no melhor estilo “olha eu aqui de novo”. Não é fácil se livrar deles, mas vão para o lixo provisório do cérebro.
21) Móveis sem utilidade alguma.
22) Restos de madeira e piso. Resto de obras.

No trabalho...
23) A mania de perseguição. Ok, não a joguei no lixo por completo. Mas vale a regra dos Alcoólicos Anônimos: “apenas por hoje” não vou achar que aquela reunião na sala da minha chefe é para falar de alguma mancada irreversível que eu dei. Parar de achar que as pessoas estão sempre pensando mal a seu respeito.
24) Que tal entrar na academia mesmo e também colocar os exames médicos em dia? Deixe de lado a preguiça de se cuidar.
25) Abra mão das suas crenças auto-destrutivas!!

Link: http://bonsfluidos.abril.com.br/livre/edicoes/0138/jogar-coisas-fora.shtml


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segunda-feira, novembro 15, 2010

IV Congresso Brasileiro de Psicologia Organizacional e do Trabalho






Trabalho Científico
Resumo do Trabalho que apresentei no IV CBPOT, em São Bernardo do Campo - SP
Em 07/07/2010.

GESTÃO POR COMPETÊNCIAS: UM ESTUDO DE CASO NA EQUIPE DE TREINAMENTO E DESENVOLVIMENTO DO INSTITUTO DE PSICOLOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - EQUIPE T&D

Autor(es):
- Jéssica Calderon Paixão - UFRJ;
- Camila Simões Santos - UFRJ;
- Dr.ª Cândida Maria Cunha Melo - UFRJ;

Modalidade: Apresentação oral de relato resumido de pesquisa

Eixo Principal: Gestão de Pessoas
Sub-tema: Competência e desempenho

Palavras-chave: Mapeamento de Competências Comportamentais e Técnicas; Equipe de Treinamento e Desenvolvimento do Instituto de Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro - Equipe T&D; Estudo de Caso

Resumo:
Introdução:
Projeto desenvolvido durante estágio na Equipe de Treinamento e Desenvolvimento do Instituto de Psicologia da UFRJ -Equipe T&D.
Mapeamos competências técnicas e comportamentais necessárias para que a Equipe atingisse seus objetivos. Mapeamos também as competências dos membros.
A Gestão por Competências propõe-se a alinhar
as competências humanas às competências organizacionais necessárias à consecução dos objetivos estratégicos da empresa.
Quando falamos em competências nos referimos a conhecimentos, habilidades e atitudes (Gilbert, 1978).

Objetivos:
Propor implementação de Gestão por Competências dentro da Equipe T&D, equipe de estágio da Psicologia/UFRJ.

Métodos:
Revisão bibliográfica e estudo de caso. A prática foi influenciado pela metodologia de Leme (2005). Diante dos dados utilizou-se análise quantitativa e qualitativa - ênfase na Análise de Conteúdo de Bardin (2003).

Resultados:
Mapeou-se as competências da Equipe T&D e de cada membro; Identificou-se necessidades de treinamento e desenvolvimento; Houve reflexão dos membros da Equipe acerca da sua prática.

Discussão:
A importância da Implementação de Gestão por Competências de forma participativa, onde os colaboradores sejam ativos.

Conclusão:
A Gestão por Competências é eficaz em alinhar o potencial humano aos objetivos organizacionais.
Quando este tipo de Gestão é feito de forma participativa, o trabalho trás contribuições que vão além do diagnóstico de treinamento.

Link: http://www.sbpot.org.br/ivcbpot/trabalhos/5237.htm


* Quem tiver interesse no tema, é só entrar em contato por e-mail que eu passo material para estudo!!


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domingo, novembro 14, 2010

Nascimento da Psiquiatria na Europa e no Brasil (comparativamente)

Nascimento da Psiquiatria na Europa...

No séc. XVII, foram criadas várias casas de internamento na Europa, os loucos eram retirados do seio da sociedade e trancafiados nestes lugares. Existiam as chamadas “cartas régias”, prática de poder arbitrário do rei, estas determinavam que algumas pessoas eram loucas e, portanto, deveriam ser internadas. Os loucos viviam acorrentados e isolados, destituídos de qualquer contato com o mundo.

No séc. XIX, Philippe Pinel (1745-1827), médico francês, considerado o pai da Psiquiatria, surge com uma proposta de desacorrentar os loucos, libertá-los. Os sujeitos, na verdade, permaneceriam internados, mas agora num novo espaço, com uma nova proposta. Há certo consenso que aponta Pinel como introdutor do enfoque clínico na Psiquiatria e, a partir dele, se constituiria um campo asilar puro. Ele mostra que a selvageria não estava nos loucos, mas na forma brutal como vinham sendo tratados e que as péssimas condições a que eram submetidos tornava-os raivosos, agitados, agressivos e pouco cooperantes. Portanto, na virada do séc. XVIII para o séc. XIX nasce na Europa a Psiquiatria como primeira especialidade médica. O nascimento da Psiquiatria é concomitante ao nascimento do asilo.

Antes de Pinel a loucura se misturava a outros “doentes” (doentes de fato, mendigos, prostitutas...) dentro de hospitais gerais sob o governo de religiosos e pessoas caridosas; os hospitais gerais eram uma espécie de instrumento misto de exclusão, assistência e transformação espiritual, em que a função médica não aparecia.

Posteriormente é proposto um tratamento para loucura, este louco é levado para um espaço diferenciado a ele destinado – o asilo.

Pinel acreditava na existência de alguma razão nos loucos, logo estes eram passíveis de tratamento. O tratamento da loucura ganha uma abordagem científica e o espaço asilar constitui-se num espaço prioritariamente médico e não mais religioso. A loucura é designada alienação, o que dá a idéia de um estado transitório, o sujeito está alienado de sua natureza, de sua consciência, de sua verdade, razão e moral. A cura consistia na estabilização de um tipo social moralmente reconhecido e aprovado.

Para Pinel a loucura era uma doença de caráter físico e moral. No asilo, tratava-se das questões corporais e, principalmente, das chamadas causas morais, ou seja, as paixões descontroladas, ardentes ou pervertidas que estariam na base da insanidade.

O tratamento moral consistia em confrontar o louco com sua própria loucura. Algumas práticas eram: exercícios ao ar livre, passeios regulares, trabalho no jardim, oficinas de flores, oficina de costura, “banhos terapêuticos”, entre outros.

O trabalho era proposto aos alienados, não por sua utilidade prática ou valor de produção, mas por sua função de reformador moral. “O trabalho possui uma força de coação superior a todas as formas de coerção física, uma vez que a regularidade das horas, as exigências de atenção e a obrigação de chegar a um resultado separam o doente de uma liberdade de espírito que lhe seria funesta e o engajam num sistema de responsabilidade.” (Foucault, 2004, p. 480)

Nascimento da Psiquiatria no Brasil (comparativamente ao processo europeu)...

No Brasil, até o séc. XIX, os loucos viviam nas ruas ou eram recolhidos em prisões quando estavam muito agitados. Quando os loucos pertenciam a famílias ricas eram recolhidos em aposentos nos fundos de sua própria casa ou mandados para tratamento na Europa.

Em 1852 temos o marco do início da atividade psiquiátrica no Brasil com a inauguração, no Rio de Janeiro, do Hospício de Pedro II, no bairro da Praia Vermelha, cujo mentor de sua construção foi o provedor-geral da Santa Casa de Misericórdia, José Clemente Pereira (1787-1854). (Teixeira, 1997, p.42)

Enquanto na Europa o nascimento da Psiquiatria estava relacionado à criação de uma nova abordagem de tratamento com enfoque médico para a loucura, a criação da Psiquiatria no Brasil vem como resposta a reclamações dos médicos quanto ao fato de os loucos ficarem circulando pelas ruas, o que era uma ameaça à ordem e à higiene públicas (medida de proteção social); e também diante de reclamações dos maus tratos que estes sofriam na Santa Casa, hospital geral. “O hospital da misericórdia tem cellas destinadas a recolher os maníacos? Sim, é verdade, mas que distancia vai dessas gaiolas humanas, postas na vizinhança de um cemitério, e por baixo de enfermarias ajoujadas de doentes...” (Paim, Isaías – primórdio da Psiquiatria no Brasil – op. Cit. p. 7, apud Teixeira, 1997).

A proposta de criação do hospício Pedro II tratava-se, em primeiro lugar, de mostrar à civilização européia que o Brasil estava em sintonia com sua modernidade, uma vez que a Europa vivia a “idade de ouro do Alienismo”. No Brasil, a criação do asilo vem para afirmar nossa “modernidade” e é um ato político, que celebra a maioridade de Pedro II, ao final de um conturbado período regencial. Portanto, o nascimento da Psiquiatria brasileira apresentou motivações distintas da européia.

Enquanto na Europa o manicômio nasce como algo que se diferencia do hospital geral, por seu público e terapêutica, no Brasil, este nasce com cara de hospital geral e demora para se livrar do comando religioso, uma vez que, ao ser inaugurado, a administração do hospício foi subordinada à Santa Casa. A eficácia do hospício brasileiro rapidamente foi questionada, tendo em vista às péssimas condições que este oferecia, sempre superlotado, não havia uma população exclusiva de loucos definida por critérios científicos e tratados adequadamente e haviam também loucos ainda não recolhidos ao hospício.

Na Europa, durante a primeira metade do séc. XIX, rapidamente se chegou a um consenso de que o manicômio, por si só, seria o instrumento de cura e a reclusão uma medida médica necessária. Já no Brasil o discurso alienista impôs-se e organizou-se de forma bastante lenta e é só no final do séc. XIX que a gestão do asilo ganha um discurso científico.

Teixeira Brandão (1854-1921) foi o médico alienista que inaugurou a Psiquiatria como prática científica, médica, no Brasil, quando de sua posse na direção do hospício em 1887, por apoio do Barão de Cotegipe, que havia sido provedor da Santa Casa da Bahia, portanto, conhecia o problema dos alienados e tornou-se protetor político de Brandão.

Brandão criticava a ausência de um tratamento moral para os alienados, a violência a que os pacientes eram submetidos, a superlotação do Hospício e sua população não específica (aos loucos misturavam-se pensionistas, outros tipos de doentes e apadrinhados de seu provedor). Portanto, quando a administração do hospício passa a suas mãos, ele remodela essa administração, retira o poder das irmãs da Santa Casa e toma uma série de medidas visando a um tratamento da alienação pautado em termos científicos, passando a ser tema de responsabilidade prioritariamente médica, todo o poder aos alienistas.

Bibliografia:
SERPA Jr, O.D. 1999 “Sobre o nascimento da psiquiatria”. In: Cadernos do IPUB No 3. Instituto de psiquiatria. RJ, UFRJ, pp.25-41.
FOULCAULT,M. 2004. História da Loucura. SP. Ed Perspectiva.
TEIXEIRA, M.O.L. 1997. Nascimento da Psiquiatria no Brasil. In: Cadernos do IPUB Nº8 RJ, UFRJ

* Texto escrito por Jéssica Calderon
(Trabalho I do Módulo Comum, do curso de Especialização em Psicogeriatria do IPUB/UFRJ)

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Diretrizes para um feedback construtivo

Sabe quando alguém fala ou faz algo que te incomoda e você, por medo de magoá-la ou por falta de coragem mesmo, não sabe como contar a ela sobre seu descontentamento? Aí, das duas uma, ou você fala como sabe e seja o que Deus quiser ou opta por se calar e não expressar seu mal-estar, o que acaba por gerar mais mal-estar...

A técnica do FEEDBACK CONSTRUTIVO vem para nos ensinar uma forma mais “amena” de contar ao outro sobre nosso incômodo, sobre o quê em seu comportamento nos desagradou, sem com isso ser agressiva e desrespeitosa, o que só faria com que não fôssemos ouvidos.

Abaixo temos as diretrizes para um feedback construtivo! Aproveite (pratique!) =)

Pensar antecipadamente sobre o que se vai dizer e como será dito e observar as diretrizes apresentadas a seguir aumentará a eficácia do que vamos dizer a outra pessoa.


PARA FAZER O FEEDBACK CONSTRUTIVO INDIVIDUAL

RECONHEÇA A NECESSIDADE DO FEEDBACK
O que primeiro deve ser reconhecido é a importância de se dar feedback, tanto positivo como negativo. Nas empresas, por exemplo, o feedback é vital para sua própria melhoria, pois esse é o único modo de saber-se o que precisa ser melhorado. Fornecer e receber feedback deve ser mais do que simplesmente um componente do comportamento dos membros da equipe; deve ser um componente da cultura da Organização.

Numa equipe de trabalho, os membros devem concordar que fornecer e receber feedback são parte valiosa no processo de melhoria do trabalho em conjunto. Esta consciência é necessária para que ninguém fique surpreso ao receber um feedback.

FORNEÇA TANTO FEEDBACK POSITIVO COMO NEGATIVO
Muitas pessoas tomam o bom trabalho como certo, e somente fornecem feedback quando existem problemas. Esta é uma má prática; as pessoas provavelmente prestarão mais atenção a suas críticas se tiverem, também, recebido seus elogios. É importante dizer as pessoas, quando for o caso, que elas trabalham bem.

COMPREENDA O CONTEXTO
A característica mais importante do feedback é que ele tem sempre um contexto: onde aconteceu, por que aconteceu, o que conduziu ao acontecimento. Nunca simplesmente nos aproximamos de uma pessoa, entregamos uma declaração de feedback e nos afastamos. Antes de fornecer feedback, analise as ações e decisões que levaram a esse momento.

SAIBA QUANDO FORNECER FEEDBACK
Antes de fornecer feedback, verifique se no momento é oportuno. Você deve pensar além da sua própria necessidade, para fornecer feedback. O feedback construtivo só pode ocorrer dentro de um contexto de atenção e interesse pela pessoa.

Não forneça feedback quando:
• Não souber muito sobre as circunstâncias do comportamento.
• Não se importar muito com a pessoa ou não puder ficar por perto por um período suficiente para acompanhar os resultados de seu feedback. Fugir da cena não é uma atitude correta.
• O feedback, positivo ou negativo, for sobre algo que a pessoa não tem poder para mudar.
• A auto-estima do outro parecer estar em baixa.
• Seu propósito não for, realmente, melhoria, mas, sim, colocar o outro em situação difícil, ou demonstrar como você é inteligente ou mais responsável.
• O momento, local ou circunstância não forem adequados (por exemplo, na presença de estranhos).


SAIBA COMO FORNECER FEEDBACK (elogios/feedback positivo – críticas/feedback negativo)

Pode parecer difícil no início, mas logo você se sentirá mais à vontade e será, então, capaz de fornecer feedback construtivo sem ter que consultar este guia.

1) SEJA DESCRITIVO.
Relate, o mais objetivamente possível, o que viu outra pessoa fazer ou o que viu outra pessoa dizer. Dê exemplos específicos – quanto mais atuais, melhores. Exemplos baseados no passado muito distante têm maior probabilidade de levar divergências sobre os “fatos”.

2) COMO O FEEDBACK FUNCIONARÁ:
“Quando você (faz isto), sinto-me (deste jeito), por causa (de tal fato). O que eu gostaria que considerasse era (fazer X), porque acho que isto realizará (Y). O que acha?”

Exemplo:
“Quando você chega atrasado às reuniões, fico irritado porque acho que isto desperdiça o tempo de todos os outros da equipe e nos impede de cumprir os itens da pauta. Gostaria que considerasse a possibilidade de planejar seu horário de modo que lhe permita chegar a tempo às reuniões. Assim, poderíamos ser mais produtivos e cumprir nossa programação”.

3) NÃO USE RÓTULOS.
Seja claro, específico e preciso. Termos como “imaturo”, “não profissional”, “irresponsável” e “preconceituoso” são rótulos que afixamos a grupos de comportamentos. Descreva o comportamento e retire os rótulos. Por exemplo, diga: -“Você não cumpriu o prazo com que todos tínhamos concordado”, em vez de: - “Você está sendo irresponsável e quero saber o que vai fazer quanto a isto!”.

4) NÃO EXAGERE.
Seja preciso. Dizer: “Você está sempre atrasado em relação aos prazos” provavelmente é dizer uma inverdade e, portanto, é ser injusto. Isto ‘provoca’ aquele que recebe o feedback, levando-o a discutir o exagero, em vez de responder à questão real.

5) NÃO FAÇA JULGAMENTOS.
Não use a retórica própria de julgamentos. Palavras como “bom”, “melhor”, “mau”, “pior” e “deve” colocam-no no papel de um pai autoritário. Isto leva a pessoa que recebe seus comentários a responder como criança. Quando isto acontece a oportunidade de se ter um feedback construtivo é perdida.

6) FALE SEMPRE EM SEU PRÓPRIO NOME.
Não se refira as pessoas ausentes ou anônimas. Evite referencias como: “Muitas pessoas aqui gostam quando você ...”. Não sirva de canal para as críticas de outros. Ao contrário, incentive os outros a falarem por si mesmos.

7) FALE PRIMEIRAMENTE SOBRE VOCÊ, NÃO SOBRE A OUTRA PESSOA.
Use uma declaração com a palavra “eu” como o sujeito e não a palavra “você”. Esta diretriz é uma das mais importantes e uma das mais surpreendentes. Considere os exemplos seguintes a respeito de atrasos:
1. “Você está freqüentemente atrasado para as reuniões.”
2. “Você é bem pontual as reuniões.”
3. “Fico aborrecido quando você se atrasa para as reuniões.”
4. “Gosto de sua pontualidade às reuniões.”

As declarações 01 e 02 são declarações do tipo “você...”. As pessoas colocam-se em posição defensiva em relação a este tipo de declaração e, provavelmente, ficam menos propensas a ouvir o que você comenta, quando ela é apresentada desta forma.
As declarações 3 e 4 são mensagens do tipo “eu...” e criam uma relação adulta/igual.
Muito provavelmente, as pessoas mantêm-se mais propensas a receber sua mensagem quando uma declaração tipo “eu...” é usada. Mesmo que sua posição seja superior àquela do receptor de feedback, empenhe-se por uma relação adulta/igual. Use declarações tipo “eu...” para que a eficácia de seus comentários não fique anulada.

8) EXPRIMA A QUESTÃO COMO UMA DECLARAÇÃO, NÃO COMO UMA PERGUNTA.
Compare: “Quando você não vai mais chegar atrasado às reuniões?”, com: “Eu fico aborrecido quando você chega atrasado às reuniões.”
A pergunta é autoritária e manipulatória porque sugere: “Espera-se que você, o receptor, adapte seu comportamento para fazer um favor a mim, o questionador.” A maioria das pessoas fica na defensiva e irritada, quando é tratada desse jeito.
Por outro lado, a declaração do tipo “eu...” sugere: “Eu penso que temos um problema que devemos resolver em conjunto.” A declaração tipo “eu...” permite ao receptor sentir qual o efeito que o comportamento produziu em você.

9) LIMITE SEU FEEDBACK AO QUE VOCÊ TEM CERTEZA.
Não apresente suas opiniões como fatos. Fale apenas sobre o que viu e ouviu e o que sente e deseja.

10) AJUDE AS PESSOAS A OUVIR E ACEITAR ELOGIOS, QUANDO FORNECER FEEDBACK POSITIVO.
Muitas pessoas se sentem constrangidas quando ouvem palavras elogiosas sobre si e rebatem os elogios (“Oh! Não foi tão importante assim. Outros trabalham nisso tanto quanto eu.”). Algumas vezes mudam de assunto. Pode ser importante reforçar o feedback positivo e ajudar a pessoa a ouvi-lo, reconhecê-lo e aceitá-lo.

11)SAIBA COMO RECEBER FEEDBACK
Algumas vezes você pode receber feedback de alguém que não conhece estas diretrizes. Nesses casos, ajude seu crítico a reformular sua colocação, de tal forma que ela se adapte às regras para um feedback construtivo (“O que disse ou fiz que lhe desagradou?”).

12)AO REAGIR A UM FEEDBACK:

• RESPIRE.
Este é um conselho simples, mas eficaz. Nossos corpos são condicionados a reagir a situações estressantes como se estas fossem agressões físicas. Nossos músculos ficam tensos. Começamos a respirar rápida e superficialmente. Respirar profunda e completamente força nosso corpo a relaxar e permite que nossa mente se conserve mais alerta.

• OUÇA CUIDADOSAMENTE.
Não interrompa. Não desestimule o fornecedor de feedback.

• FAÇA PERGUNTAS PARA MELHOR CLAREZA.
Você tem o direito de receber um feedback compreensível. Peça exemplos específicos (“Pode me dizer o que faço ou o que digo que me faz parecer agressivo contra você?”).

• RECONHEÇA O FEEDBACK.
Reformule a mensagem com suas próprias palavras para que a pessoa perceba que você ouviu e compreendeu o que foi dito.

• RECONHEÇA OS PONTOS VÁLIDOS.
Concorde com o que é certo. Concorde com o que é possível. Reconheça seus pontos de vista (“Entendo como você obteve esta impressão”) e tente compreender sua reação.

• ORGANIZE COM CALMA O QUE VOCÊ OUVIU.
Você pode precisar de tempo para organizar o que foi ouvido ou consultar outras pessoas, antes de responder ao feedback. É razoável pedir ao fornecedor do feedback certo tempo para pensar sobre o que foi dito e analisar sua opinião. Marque com ele um encontro para voltarem ao assunto. Mas não use esse tempo como um desculpa para evitar a questão.

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GUIA PRÁTICO PARA FORNECIMENTO DE FEEDBACK CONSTRUTIVO

Seqüência Explicação
1. “Quando você...” Inicie uma declaração: “Quando você...”, que descreve o comportamento sem julgamento, exagero, rotulagem, atribuição ou motivos. Simplesmente declare os fatos o mais especificamente possível
2. “Sinto...” Conte como o comportamento deles lhe afeta. Se precisar mais de uma palavra ou duas para descrever o sentimento é provável que ela seja alguma variação de alegria, tristeza, raiva ou medo.
3. “Por que eu...” Explique agora porque você é afetado daquela forma. Descreva a conexão entre fatos que observou e os sentimentos que provocam em você. 4. Pausa para discussão) Deixe o outro responder.
5. “Gostaria...” Descreva a mudança que deseja que outra pessoa considere...
6. “Por que...” ... e por que você acha que a mudança amenizará o problema.
7. “O que você acha?” Ouça a resposta do outro. Esteja preparado para discutir opções e chegar a um acordo quanto à solução.


* Esta técnica aprendi quando fui estagiária da "Equipe de Treinamento e Desenvolvimento do Instituto de Psicologia da UFRJ."
Agradeço à prof.ª Dr.ª Cândida Melo por este e tantos outros ensinamentos válidos.


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segunda-feira, novembro 08, 2010

O Homem Gay e a Mídia

Esse é um vídeo bem bacana que discute a questão da homossexualidade na atualidade e como o tema é abordado na mídia e repercute na sociedade.

O vídeo tem a participação de um colega de turma da faculdade, Luan Cassal. Psicólogo de idéias bem interessantes!

Vale a pena conferir o vídeo pelo conteúdo!





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Filme: "O Equilibrista"




O filme “O Equilibrista” é bem emocionante e trás boas mensagens. Eu recomendo!

Este é baseado numa história real, a história de Phillippe Petit (13 de Agosto de 1949), um artista francês, equilibrista e malabarista, que conquistou seu maior sonho, andar sob um cabo de aço entre as Torres Gêmeas, uma façanha nunca realizada antes (nem depois) dele. Realmente algo de muita coragem, andar por quase 1 hora à 417m de altura, sem nenhuma rede de proteção ou coisa que o valha, não é para qualquer um. Petit contou com a ajuda de seus amigos e de sua namorada, num projeto de persistente trabalho que durou 6 anos!!!

É um filme que relembra valores importantes, tais como persistência, lutar por um sonho e a importância de amigos verdadeiros e incentivadores que nos ajudam nas pequenas tarefas do dia-a-dia rumo a grandes realizações.

Uma das frases que mais gostei: "A vida deve ser vivida perigosamente. É preciso exercitar a rebelião! Recusar-se a ficar preso a regras. Ver cada dia e cada idéia como um desafio. Viver a vida numa corda bamba."

Incentivo a assistirem o filme!! E depois postem aqui seus comentários!

* Jéssica Calderon.


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sexta-feira, novembro 05, 2010

Valide Alguém!

O que é validação??
Todo mundo é inseguro, sem exceção. Os super-confiantes simplesmente disfarçam melhor. Não escapam pais, professores, chefes nem colegas de trabalho. Afinal, ninguém é de ferro. Paulo Autran treme nas bases nos primeiros minutos de cada apresentação, mesmo que a peça que já tenha sido encenada 500 vezes. Só depois da primeira risada, da primeira reação do público, é que o ator se relaxa e parte tranqüilo para o resto do espetáculo. Eu, para ser absolutamente sincero, fico inseguro a cada novo artigo que escrevo, e corro desesperado para ver os primeiros e-mails que chegam. Insegurança é o problema humano número 1. O mundo seria muito menos neurótico, louco e agitado se fôssemos todos um pouco menos inseguros. Trabalharíamos menos, curtiríamos mais a vida, levaríamos a vida mais na esportiva. Mas como reduzir esta insegurança? Alguns acreditam que estudando mais, ganhando mais, trabalhando mais resolveriam o problema. Ledo engano, por uma simples razão: segurança não depende da gente, depende dos outros. Está totalmente fora do nosso controle. Por isso segurança nunca é conquistada definitivamente, ela é sempre temporária, efêmera. Segurança depende de um processo que chamo de "validação", embora para os estatísticos o significado seja outro. Validação estatística significa certificar-se de que um dado ou informação é verdadeiro, mas eu uso esse termo para seres humanos. Validar alguém seria confirmar que essa pessoa existe, que ela é real, verdadeira, que ela tem valor. Todos nós precisamos ser validados pelos outros, constantemente. Alguém tem de dizer que você é bonito ou bonita, por mais bonito ou bonita que você seja. O autoconhecimento, tão decantado por filósofos, não resolve o problema. Ninguém pode autovalidar-se, por definição. Você sempre será um ninguém, a não ser que outros o validem como alguém. Validar o outro significa confirmá-lo, como dizer: "Você tem significado para mim". Validar é o que um namorado ou namorada faz quando lhe diz: "Gosto de você pelo que você é". Quem cunhou a frase "Por trás de um grande homem existe uma grande mulher" (e vice-versa) provavelmente estava pensando nesse poder de validação que só uma companheira amorosa e presente no dia-a-dia poderá dar. Um simples olhar, um sorriso, um singelo elogio são suficientes para você validar todo mundo. Estamos tão preocupados com a nossa própria insegurança, que não temos tempo para sair validando os outros. Estamos tão preocupados em mostrar que somos o "máximo", que esquecemos de dizer aos nossos amigos, filhos e cônjuges que o "máximo" são eles. Puxamos o saco de quem não gostamos, esquecemos de validar aqueles que admiramos. Por falta de validação, criamos um mundo consumista, onde se valoriza o ter e não o ser. Por falta de validação, criamos um mundo onde todos querem mostrar-se, ou dominar os outros em busca de poder. Validação permite que pessoas sejam aceitas pelo que realmente são, e não pelo que gostaríamos que fossem. Mas, justamente graças à validação, elas começarão a acreditar em si mesmas e crescerão para ser o que queremos. Se quisermos tornar o mundo menos inseguro e melhor, precisaremos treinar e exercitar uma nova competência: validar alguém todo dia. Um elogio certo, um sorriso, os parabéns na hora certa, uma salva de palmas, um beijo, um dedão para cima, um "valeu, cara, valeu". Você já validou alguém hoje? Então comece já, por mais inseguro que você esteja.

Stephen Kanitz

* Artigo publicado na Revista Veja, edição 1705, ano 34, nº 24, 20 de junho de 2001, pág.22



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