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segunda-feira, novembro 29, 2010

Sobre a Morte - parte I




Os homens fazem discursos a respeito da morte, dizem ser este um processo natural e inevitável. Porém, para além do discurso racional, o homem não consegue admitir de verdade a idéia da própria morte. A Psicanálise diz que o homem não crê na própria morte; que inconscientemente pensamo-nos imortais. Para nós a morte (assim como o envelhecimento) é sempre do outro. "Nosso inconsciente, portanto, não crê em sua própria morte; comporta-se como se fosse imortal." (Freud, p.335)

Tendemos a encarar as mortes ao nosso redor como obra do acaso; procuramos justificar a morte, ex: "morreu porque estava doente" ou "estava muito velho", ao invés de "morreu porque é natural morrer". Ficamos muito sensibilizados com a morte de pessoas próximas a nós, talvez porque isto nos lembre, de certa forma, que também vamos morrer.

"Para com a pessoa que morreu adotamos uma atitude especial - algo próximo da admiração por alguém que realizou uma tarefa muito difícil."(Freud, p.328)
É por isso que, quando alguém morre, tendemos a enxergar apenas suas virtudes.

É somente através das artes, músicas, literatura, dramaturgia, que os homens permitem-se aproximar do tema morte. Exceto na guerra, obviamente, quando a morte é encarada de forma mais corriqueira.

Os homens criam a idéia da vida após a morte para se confortar diante da perda de alguém querido e para não admitir que sua morte é seu fim. A religião oferece esse conforto aos homens.

Além disso, nossos sentimentos são ambíguos; podemos sentir amor e ódio pela mesma pessoa sem nos darmos conta. Por vezes, desejamos a morte de pessoas próximas de forma inconsciente e, quando estas morrem mesmo, podemos nos sentir culpados sem entender o porquê.

"Nosso inconsciente não executa o ato de matar, ele simplesmente o pensa e o deseja. Mas seria completamente errado subestimar essa realidade psíquica quando posta em confronto com a realidade factual. Ela é bastante importante e grave. Em nossos impulsos inconscientes, diariamente e a todas as horas, nos livramos de alguém que nos atrapalha, de alguém que nos ofendeu ou nos prejudicou. A expressão 'Que o Diabo o carregue!', é em nosso inconsciente um sério e poderoso desejo de morte. De fato, nosso inconsciente assassinará até mesmo por motivos insignificantes." (Freud, p.336)

Em suma, segundo Freud, nosso inconsciente não aceita a própria morte, inclina-se ao assassinato em relação aos estranhos e é ambivalente para com aqueles que ama.

"Se queres suportar a vida, prepara-te para a morte."


* Texto escrito por Jéssica Calderon.


BIBLIOGRAFIA:
- Freud, v. XIV, "Reflexões sobre guerra e morte", 1915.
- Freud, v. XIV, "Sobre a transitoriedade", 1915.


Atendimento Psicológico - em Botafogo
Contato: jessicacalderon.psi@gmail.com
Jéssica Calderon - CRP: 05/39344

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