A gente cresce na relação com o outro.

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segunda-feira, novembro 29, 2010

Sobre a morte - parte II




Norbert Elias é um sociólogo alemão que nos oferece algumas reflexões acerca da solidão daqueles que, prestes a morrer, são isolados pela família e amigos. Segundo o autor, a idéia da morte é tão evitada pelas pessoas (ainda que não percebam) que acabam por se afastar de tudo o que lhes lembre o tema, como parentes e amigos que estejam gravemente doentes.

"...um dos problemas mais gerais de nossa época - nossa incapacidade de dar aos moribundos a ajuda e afeição de que mais que nunca precisam quando se despedem dos outros homens, exatamente porque a morte do outro é uma lembrança de nossa própria morte." (Elias, p.16)

"E os viventes podem, de maneira semiconsciente, sentir que a morte é contagiosa e ameaçadora; afastam-se involuntariamente dos moribundos. Mas, para os íntimos que se vão, um gesto de afeição é talvez a maior ajuda, ao lado do alívio da dor física, que os que ficam podem proporcionar." (Elias, p.37)

A forma como lidamos com a morte é influenciada pelo contexto histórico e social - Na atualidade, com os avanços da medicina e da tecnologia, é possível prolongar nossos dias, por isso, é mais fácil passar pela vida quase como se a morte não existisse.
Já na Idade Média, onde a morte era bem mais cotidiana, defrontar-se com esta questão era bem mais frequente, até mesmo para as crianças (tão poupadas nos dias de hoje). Dizer isto não significa dizer que a morte era encarada de forma mais pacífica ou menos dolorosa.

Os "monstros" que cercam a morte também mudam de acordo com o contexto histórico e social -
Na Idade Média a morte era fisicamente mais dolorosa, pois não dispunha de tantos avanços da medicina e era rodeada por sentimentos de culpa, já que a Igreja tinha grande influência e pregava a existência de um inferno terrível para os pecadores.
Atualmente a morte é menos precoce, mais inodora, menos atormentada por fantasmas de culpa, porém menos "assistida", ou seja, antes o indivíduo morria com muitas pessoas ao seu redor, hoje não raro os moribundos são relegados ao isolamento afetivo. Muitas vezes os sujeitos em seu leito de morte estão cercados por médicos e seus cuidados, mas completamente ilhados em relação a seus entes queridos.

"Nunca antes as pessoas morreram tão silenciosa e higienicamente como hoje nessas sociedades, e nunca em condições tão propícias à solidão." (Elias, p.98)

Elias relaciona o silêncio que defendemos em torno dos mortos aos nossos próprios medos inconscientes. Ele diz: "E a solenidade com que funerais e túmulos são cercados, a idéia de que deve haver silêncio em torno deles, de que se deve falar em voz abafada nos cemitérios para evitar perturbar a paz dos mortos - tudo isso são realmente formas de distanciar os vivos dos mortos, meios de manter à distância uma sensação de ameaça (medo da morte e dos mortos)." (Elias, p.40)

Uma das características de nossa sociedade contemporânea é o individualismo. Este repercute inclusive na forma como morremos e como deixamos morrer. Parece que, assim como outros aspectos da vida, a morte é um problema individual, por isso nossas dificuldades em assistir aos outros em sua morte e em mostrar a fragilidade de nossa própria morte.

Será que podemos pensar em um caminho para a boa morte?
"O modo como uma pessoa morre depende em boa medida de que ela tenha sido capaz de formular objetivos e alcançá-los, de imaginar tarefas e realizá-las." (Elias, p.72)
Importa o quanto sentimos que construímos algo positivo na vida.

Não há uma posição rígida e única, deixar o moribundo isolado ou rodeado de pessoas. Não pode haver uma ditadura do melhor comportamento. Penso que devemos estar atentos ao desejo e necessidade do outro e, na medida do possível, respeitar isto.


* Texto escrito por Jéssica Calderon

BIBLIOGRAFIA:
- Elias, Norbert, 1897-1990. "A solidão dos moribundos", Rio de Janeiro: Jorge Zahar. Ed., 2001)


Atendimento Psicológico - em Botafogo
Contato: jessicacalderon.psi@gmail.com
Jéssica Calderon - CRP: 05/39344

Um comentário:

  1. Jéssica,acho que por mais bem preparados que nossa mente possa estar,ninguem aceita morrer,é algo que vai contra a estrutura do ser humano,sabemos que qdo Deus fez o homem,ele colocou no coração o desejo de eternidade...e isso dificulta a aceitação de tal.
    Gostei do assunto em pauta...olha leia a postagem qu eu escrevi ,tenho um trabalhinho pra vc me ajudar....leia e depois me diga...
    O titulo é aprender dizer não...
    Querida um beijo grande...até mais..

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